domingo, novembro 24, 2024
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Tiago Barbosa revela que estudou transexualidade para viver personagem em “Kinky Boots”

Aos 37 anos de idade, Tiago Barbosa já conquistou importantes papéis no teatro que lhe renderam grandes prêmios. Nascido em São João de Mérito, baixada fluminense, no Rio de Janeiro, ele é formado em pedagogia e hoje estuda fonoaudiologia, além de atuar e cantar.

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Tiago não imaginava que o primeiro musical do qual participou mudaria completamente a sua vida e de sua família. Ele viveu Simba no musical “O Rei Leão” por oito anos. Atualmente morando em Madrid, na Espanha, o artista interpreta Lola em “Kinky Boots”, premiado musical da Broadway.

tiago barbosa
Foto: Reprodução/Instagram @tiagobarbosaoficial

O carioca bateu um papo exclusivo com o EntreMusic Brasil para falar sobre o início da carreira, a experiência com “O Rei Leão”, os prêmios, o novo trabalho, a adaptação na Espanha e muito mais. Confira abaixo!

tiago barbosa
Foto: Reprodução/Instagram @tiagobarbosaoficial

Como surgiu esse desejo de começou a atuar e cantar? Quantos anos você tinha? Sua família te apoiou nessa escolha de carreira?

Canto desde criança, por referência dos meus pais e avós. Fazemos parte de uma família de músicos. O desejo de atuar veio já na juventude, em buscar estudar teatro, e nessa época busquei o grupo NÓS DO MORRO. Meus pais não queriam que eu fosse ator e apesar de ser um bom cantor, eles tampouco queriam que eu seguisse esse caminho.

Você conquistou o papel principal no musical “O Rei Leão”, interpretando Simba, que foi seu primeiro musical. O que essa experiência mudou na sua carreira?

A experiencia de fazer “O Rei Leão” no Brasil mudou, de verdade, praticamente tudo na minha vida e não somente na minha como na vida da minha família também, trazendo cultura, arte, esperança, projeção, uma mudança de comportamento e de posicionamento social. “O Rei Leão” revolucionou a minha vida. Através dele consegui mudar muitas coisas dentro da história da minha família. Ele me fez ver que realmente esse era o caminho que queria seguir profissionalmente e seguir vivendo em São Paulo. Foi uma experiência de ouro na minha vida.

A diretora americana Julie Taymor o considerou como o melhor intérprete do Simba em todas as produções já realizadas no mundo. Qual foi a sensação de saber disso? 

Eu não conhecia Julie Taymor, então eu não queria pesquisar, estudar sobre ela, saber quem era ela porque, primeiro, era minha primeira experiência no teatro musical, fazendo teatro grande, um musical grande, o maior espetáculo da Broadway, de maior bilheteria. Eu não queria que nenhuma sensação pudesse roubar esse momento. A primeira coisa que eu fiz foi ligar pra minha mãe pra poder dizer pra ela que eu consegui, mas como meus pais nunca tinham entrado em um teatro, eles não tinham ideia nem dimensão do que seria “O Rei Leão” na minha vida e nas nossas vidas. Eu nunca deixei com que essa palavra entrasse no meu coração pra devastar o meu coração de uma maneira que meu ego subisse, mas eu sabia que eu deveria trabalhar muito pra poder manter uma palavra que era a palavra simplesmente de Julie Taymor. Essa coroação só me gerou mais trabalho, estudar pra manter uma qualidade de trabalho.

Pela sua atuação no musical, você foi eleito Ator Revelação no 2º Prêmio Bibi Ferreira em 2014. Já imaginou que algo tão grandioso assim aconteceria?

Eu nunca tinha imaginado ganhar esse prêmio e foi num momento muito doloroso da minha vida, que foi quando eu tinha acabado de perder minha mãe. Então minha cabeça não estava no prêmio, estava em seguir constante, manter constante no trabalho, em “O Rei Leão”. Quando eu ganhei dediquei ao meu pai que foi meu herói, a pessoa que mais acreditou em mim, que investiu em mim, e esse prêmio era pra ele, não era pra mim. Era pra dizer pra ele que valeu a pena todo esforço, valeu a pena como homem, negro, da favela, que tentou tudo que podia fazer para que seus filhos não estivessem envolvidos no tráfico ou para que seus filhos pudessem ter uma educação, estar em uma escola e não trabalhar na infância. Esse prêmio foi pro meu pai.

Você é protagonista em “Kinky Boots”, no papel de Lola. Pode nos contar um pouco mais sobre esse trabalho?

Eu comecei a ler muito e uma coisa que eu tinha conversado com a produção era pedir classe de stiletto, aula de dança, classe de comportamento feminino e aí comecei um processo de investigação, de estudo, lendo o próprio texto, mas não voltado para o mundo drag queen e sim voltado para o mundo transexual. A minha Lola é uma mulher trans, o que muda muito, dá uma outra cor pro espetáculo. E ela é uma trans que vem do Brasil pra poder tentar a vida aqui na Espanha. Esse é o meu processo, essa é minha linha de pensamento da Lola, e muita paciência e leitura. Pra ter uma ideia, os ensaios começavam às 10h e eu acordava às 04h30 pra poder ler, buscar coisas no YouTube, fazia documentários de mulheres trans, a transição sexual e muita leitura antes de chegar no ensaio.

Como surgiu esse convite? Fez alguma preparação para atuar no musical “Kinky Boots”?

“Kinky Boots” chegou na minha vida depois da pandemia, um ano e meio de pandemia, um ano e meio sem trabalhar, eu já estava com meu contrato pra fazer a temporada nova de “O Rei Leião”. Estava tudo certo, sendo acompanhado pela Disney e pela Station Entertainment, quando chegou esse convite pra fazer “Kinky Boots”. Claro, já fazia um tempo que eu estava bastante inquieto, com muita vontade de fazer um trabalho novo, foram muitos anos fazendo Simba. Quando chegou a proposta eu na mesma hora topei, conversei com a Disney, ela me liberou de “O Rei Leão” e mergulhei na história do “Kinky Boots”. Estudei muito pra poder fazer. Esse trabalho é a mudança da água pro vinho na minha vida e na minha carreira aqui da Espanha.

Faz quanto tempo que mora na Espanha? Mudar de país foi um desafio pra você? Como tem sido a adaptação?

Já faz 5 anos que moro fora do Brasil. O processo de adaptação foi muito difícil, primeiro que eu cheguei aqui e não falava bem o espanhol, tive que aprender a falar. Chegou um período da minha vida aqui que eu tive que tirar o WhatsApp do meu telefone, programar meu telefone todo com a linguagem espanhol, falar menos com a minha família e ter menos contato com a língua brasileira, pra poder estar com o ouvido sincronizado com o castelhano. A cultura é diferente, a comida é diferente, o posicionamento é diferente, então foi um processo muito difícil. Os dois primeiros anos que são de adaptação foram momentos bem complicados. Várias vezes pensei em voltar pela saudade da família e saudade dos amigos. Começar um país novo, ainda que seja num espetáculo muito grande, é começar do 0, fazer amizades do 0. O clima é diferente, no meu primeiro Natal aqui na Espanha estava menos 7 graus, um frio que eu nunca tinha visto na vida. Foi um período bem difícil, mas hoje eu amo esse país.

Pretende voltar a morar no Brasil algum dia?

Sim, pretendo voltar ao Brasil. Nunca costumo dizer “não”, tomo bastante cuidado em dizer as palavras “não” e “nunca” porque não sei, tudo depende. O Brasil é meu país, é onde estão meus amigos, estão minhas origens, minha raiz, e eu torço pelo Brasil, quero que dê certo. Se pintar um trabalho bacana pra eu poder fazer no Brasil, sim, com certeza. Eu tenho meu show que desenvolvo em São Paulo, que é o show Estrada, então todo ano eu estou no país. Hoje meu lugar de foco e crescimento é na Espanha, na Europa, e já fazendo planos pra conquistar outros países também.

Quais seus próximos passos na carreira? Tem outros projetos em vista?

Eu costumo falar menos possível sobre próximos trabalhos. Por hora, eu estou bastante focado no “Kinky Boots”, bastante feliz com ele. São muitas funções por semana, a crítica está sendo maravilhosa sobre meu trabalho, então é hora de focar nisso e fazer o melhor possível. Existem coisas novas que estão surgindo, mas na hora e no momento certo eu vou contar pra cada um de vocês.

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Raphaela Dias
Raphaela Diashttp://www.entremusicbrasil.com
Jornalista, redatora no Entre Music Brasil e produtora de conteúdo na Deal's Art. Curiosa e apaixonada por boas histórias!

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